A tragédia ocorrida há 1 ano na boate Kiss, em Santa Maria,(RS), trazendo muita tristeza ao país por suas vítimas e familiares, reacendeu várias preocupações e indagações na sociedade. Que segurança nós e nossos filhos temos nos locais e eventos da cidade?

Hoje no Brasil são promovidos  quase que diariamente lazer e entretenimentos de grande porte em suas capitais e cidades.

O País tem no seu calendário anual grande eventos que mobilizam dezenas de milhares de pessoas. 

• Shows (Lollapalooza, Rock´n Rio e artistas mundialmente consagrados)

•  Grandes eventos esportivos. E em 2014 temos a Copa do mundo.

Em meio a este cenário e com a tragédia de Santa Maria, alguns  pontos merecem um mínimo de reflexão .

O primeiro ponto é sobre o quanto os eventos e estabelecimentos de lazer e entretenimento de grande movimento são seguros e estão preparados para evitar e lidar, caso ocorra, com uma emergência como a ocorrida na boate Kiss.

Podemos ficar despreocupados ou será que temos um cenário onde impera o descaso e uma cultura equivocada  do “é melhor remediar que prevenir”?  Será que a ideia de que esse tipo de tragédia só acontece com os outros, descuidando-se  e negligenciando a segurança,  frequenta a mente dos organizadores e tem mais força que a prevenção e a responsabilidade?

Prevenir acidentes, além de ser uma postura prevista em lei  e esperada pela sociedade é um exemplo de boa educação, humanidade e principalmente, respeito à vida.

Falando dos responsáveis, o segundo ponto trata justamente das responsabilidades. Quem são os responsáveis por garantir a segurança nesses estabelecimentos e eventos? De quem temos que cobrar?

É o poder público? Por meio da prefeitura, seus fiscais, dos Bombeiros? 

O poder público têm, de fato, expertise e principalmente estrutura para proporcionar a segurança que se espera? Tem agilidade para fiscalizar o cumprimento das regras de segurança? 

E os proprietários e organizadores dos eventos? Não seriam eles os maiores responsáveis?

Será que a preocupação com a segurança, na prevenção  e atuação, em casos de emergência,  acaba ficando menos rígida em função de custos e dificuldade de implantação de boas práticas? Não podemos crer  que a segurança  seja vista na planilha de custos como algo de fácil alteração para rentabilizar os investimentos dos eventos.

E ainda temos os próprios usuários e a população.  Quais são as nossas obrigações sobre esse problema?

Aceitamos passivamente ou reclamamos quando vemos um problema de segurança nos estabelecimentos e eventos? Informamos? Divulgamos e até boicotamos os estabelecimentos que não disponibilizam o lazer com qualidade e segurança?

Para ajudar nesse começo de discussão a Index/Vis realizou um estudo e uma pesquisa que procura entender um pouco do comportamento e da opinião da população sobre este tema e  como enxergam a tragédia de Santa Maria.

Os  resultados deste estudo mostram que a segurança nos grandes eventos e estabelecimentos comerciais de grande movimento podem e devem  melhorar muito no Brasil. O problema existe .

Quase 65% dos entrevistados já se sentiram vulneráveis ou presenciaram problemas com a segurança em eventos ou estabelecimentos onde há grande movimento de pessoas.




O maior problema é a superlotação (62%).  Coincidência ou não, foi a causa de muitas tragédias já ocorridas no Brasil.


E junto com essa situação,  outro fato que potencializa o problema do excesso de pessoas em um ambiente é o do nº pequeno ou até a falta de profissionais de segurança para atuar e orientar em caso de emergência.



Vale lembrar que nos grandes eventos avaliados pela Index/Vis nos últimos 2 anos, como Rock´n Rio, Lollaplozza, Virada Cultural, Copa das Confederações etc..., ainda que na maioria deles tenhamos obtido boas avaliações na organização e estrutura desses eventos, o desconforto e a sensação de insegurança gerada pelo excesso de pessoas em um mesmo espaço, aliada à percepção da pouca estrutura de profissionais para evitar ou atuar, caso necessário, foram quase sempre citadas nesses estudos.

E sobre a responsabilidade por garantir a segurança nos eventos e  locais de grande concentração de pessoas, segundo ponto da nossa reflexão, qual a percepção dos entrevistados?

Não há um consenso em quem é o princípal responsável.  O estudo mostra que, para a população, a responsabilidade é compartilhada pelo poder público e pelos organizadores. Isto não seria um problema se essas duas entidades gozassem de boa credibilidade. O que não acontece.

Apenas 4 em cada 10 pessoas acreditam que a segurança é levada totalmente a sério pelo poder público e pelos organizadores dos eventos.


E por que não acreditam nas instituições e nos organizadores? Como que uma marca registrada do País, o dinheiro fácil, a esperteza,  o descaso e a ineficiência do Estado norteiam a descrença. A frase ouvida durante a investigação, “ Em um País que se vê fraude em remédios, formol no leite, e um Estado que fala muito e faz pouco, deixar alguns itens de segurança de lado é quase que uma bobagem” sintetiza a imagem dos empresários do setor e do poder público.


Pode ser que esta imagem não represente a real seriedade e a preocupação dos responsáveis em garantir segurança no lazer em eventos.  No caso do poder público,  esta imagem é causada por questões técnicas, estruturais, atuação ou o quê?

É preciso entender o que acontece e reverter essa imagem. A dúvida e a insegurança estão ai.

O poder público tem, de fato, expertise e estrutura para proporcionar a segurança que se espera?  Se tem, está atuando? A sociedade paga seus impostos e quer ver a sua presença na regulamentação, fiscalização e punição, quando couber.


Ainda falta muito mas um simples e bom exemplo  de atuação é o site criado pela prefeitura de São Paulo onde é possível consultar se determinados locais estão aptos para receber as pessoas com um mínimo de segurança.

E os organizadores dos eventos e proprietários de locais de lazer?  A credibilidade deste setor é ainda pior.

Triste imaginar que na mente de um executivo ou empresário ligado ao lazer, entretenimento e eventos, a ideia do aumento da rentabilidade e do lucro  possa se dar também em detrimento da segurança.

Realidade ou não,  esta imagem em relação aos organizadores, denotando na sociedade preocupação e falta de esperança, não pode ser vista com naturalidade.

Talvez esse pensamento egoísta e tacanho do lucro acima de qualquer outro tema seja  apenas de uma minoria mas que fere a imagem de todos  e precisa mudar.

Não bastam palavras ou encenações para mudar esta imagem de tão baixa credibilidade. Sera necessário mostrar muita ação, divulgação e fatos reais. Além de dar mais visíbilidade a tudo que se faz nos locais e  eventos, tornando-os mais seguros, a sociedade precisa ver, nos casos dos maus empresários,  a justiça sendo feita de forma rápida e implacável. Uma boa oportunidade seria  a tragédia de Santa Maria.

Os usuários e a população tem a sua responsabilidade e participação nesta empreitada pela segurança no lazer.

A população reclama e denuncia quando se depara com um problema de segurança nos estabelecimentos e eventos? Informamos? Divulgamos e boicotamos os estabelecimentos que não disponibilizam o lazer com qualidade e segurança?

Segundo a pesquisa, apenas 15% já fez alguma reclamação ou denúncia de algum problema visto em eventos ou locais de lazer de grande movimento.

Quando não reclamamos, não denunciamos, não divulgamos,  deixamos toda a sociedade e os nossos familiares vulneráveis e  a mercê de tragédias que quase sempre poderiam ser evitadas.

Para finalizar, o que ocorreu em Santa Maria na Boate Kiss, pode ter contribuído para estimular a comunidade a exigir mais segurança nos grandes eventos e estabelecimentos comerciais. Na pesquisa vimos que 67% dos entrevistados dizem que hoje estão mais atentos e observadores quando vão a grandes eventos ou locais de grande circulação de pessoas e denunciariam / divulgariam, caso percebessem algo errado.

O fato é que todos os dias centenas de estabelecimentos estão lotados de pessoas, (muitos acima da sua capacidade) em sua grande maioria, jovens  e que, extrapolando os resultados da pesquisa, a maior parte já presenciou problemas sérios de segurança ou situações perigosas em grandes ambientes de lazer, muitos deles, conhecidos.

Novamente, além do dia-a-dia, os grandes eventos estão ai. Lollapalooza agora em abril e em junho o maior evento esportivo da TV mundial, a Copa do Mundo, entre outros.

É imperativo que o poder público seja rigoroso com a regulamentação sobre segurança, fiscalize os estabelecimentos e puna exemplarmente quem não cumprir essa regulamentação.  Além disso,  esperamos que os responsáveis pelos eventos e estabelecimentos sejam verdadeiramente responsáveis na hora de promover seus eventos de entretenimento, cumprindo as regras e determinações de segurança, não poupando esforços e recursos na prevenção. 

NESTES CASOS,  A PREVENÇÂO É SEMPRE A MELHOR ALTERNATIVA...